Repetição

7/15/20252 min read

Caminhos conhecidos, percorridos repetidamente. Por que repetimos situações, mesmo quando elas são dolorosas?

Para refletirmos sobre essa questão, se mostra pertinente tratar sobre o papel da memória, que registra experiências vivenciadas. Afinal, quantas vezes ao testemunharmos a repetição de comportamentos que geram sofrimento pensamos sobre o aparente esquecimento de experiências anteriores por parte de quem os repete?

A partir da perspectiva psicanalítica podemos perceber a pertinência da associação entre a repetição e o esquecimento. No artigo “Recordar, repetir e elaborar” (publicado em 1914), Freud argumenta sobre o esquecimento produzido pela repressão inconsciente, que é denominada por recalque. Ao ser esquecida por meio do recalque, a situação tende a ser repetida de forma que quanto maior for o recalque, mais frequente será a repetição de situações associadas ao que foi recalcado.

Assim, Freud argumenta sobre a repetição de vivências não registradas pela consciência, de modo que o sujeito repete-as “sem, naturalmente, saber o que está repetindo” (1996, p. 165). A repetição se revela como um processo substituto à recordação, em que o “o paciente repete invés de recordar” (1996, p. 167). Nesse sentido, o autor afirma que muitas pessoas que buscam o tratamento psicanalítico possuem “a impressão de um destino que as persegue, (...) e a psicanálise sempre viu tal destino como, em boa parte, preparado por elas mesmas” (2010, p. 181).

Desse modo, cabe ao analista, ao longo do processo de análise, indagar com vistas à promoção da recordação, de forma a possibilitar o abrandamento da repetição e possibilitando a elaboração de quem está em análise. A elaboração é o processo de compreensão de sentidos que fundamentam nossos pensamentos, afetos e ações e ela se revela como força capaz de interromper a inércia psíquica.

Ao falarmos livremente com a/o analista que nos escuta e indaga, somos convidados a elaborar. Ao longo do processo de análise, o recalque perde gradativamente a sua força e podemos recordar o que estava recalcado. Assim, ao se recordar e elaborar, não se faz mais necessária a repetição, conferindo uma maior liberdade para o sujeito, que pode se vislumbrar liberto de um destino inevitável.

Referências

FREUD, Sigmund. Obras Completas. Vol. XII. O caso Schreber, Artigos sobre a Técnica e outros trabalhos. Rio de Janeiro : Imago, 1996.

_______________. Obras Completas, volume 14. História de uma neurose infantil [“O homem dos lobos”], Além do princípio do prazer e outros textos [1917-1920]. São Paulo : Companhia das Letras, 2010.

Repetição: elaborar, para não precisar repetir