Relações familiares


Ao trocarmos experiências de vida ou ao observarmos nossos comportamentos e perspectivas percebemos a importância das relações familiares na nossa conformação. Essas relações são carregadas de ambivalência e, por essa razão, elas são tão complexas, exigindo de cada um de nós bastante do nosso psiquismo.
Segundo a perspectiva psicanalítica, a ambivalência é a coexistência da ternura e da hostilidade, sendo essa conjunção de afetos especialmente presente e intensa quando se tratam de figuras de autoridade como as figuras parentais. Essa ambivalência por vezes é fortemente censurada pelo próprio sujeito, gerando muita culpa e sofrimento psíquico.
A contribuição da psicanálise vai no sentido de compreendermos esses afetos de forma a lidarmos melhor com eles, possibilitando a percepção de que a presença de um tipo de afeto não elimina o outro, nos libertando da culpa e da percepção de imutabilidade das relações. Além disso, durante o processo de análise, somos convidados a refletir sobre a posição que ocupamos nas relações, bem como sobre o que nos definiria enquanto sujeitos.
Percebemos por meio da análise que muito do que acreditamos se tratar de características imutáveis e constituintes do nosso ser podem ser questionadas e modificadas, possibilitando a mudança da posição que ocupamos. Com essa mudança, percebemos que as relações, antes vistas como imutáveis, podem ser igualmente transformadas, se passarmos a ocupar outras posições nelas.
Em outras palavras, o processo de análise se revela como um meio para a mudança da posição subjetiva, isto é, da posição que acreditamos que nos define e que se faz presente na maioria de nossas relações. Assim, com a mudança subjetiva há a mudança das posições que repetimos em diferentes relações. O que era visto como imutável em nós mesmos e nos outros passa a ser visto como passível de transformação e passamos assim, a nos responsabilizar pelas posições que ocupamos nas diferentes relações, até mesmo naquelas consideradas como inescapáveis, como as relações familiares.
Referências
FREUD, Sigmund. Obras Completas, volume 11. Totem e Tabu, contribuição à história do movimento psicanalítico [1912-1914]. São Paulo : Companhia das Letras, 2012.